Oposição aponta falhas na rede de acolhimento do Recife
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A precária situação da rede de assistência social suscitou o primeiro dos quatro relatórios elaborados pela vereadora Aline Mariano (PSDB), líder da bancada de oposição na Câmara, sobre o balanço de dez meses da gestão do prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB). A oposicionista subiu nesta terça-feira (5) à tribuna da Casa José Mariano para elencar os principais problemas dos abrigos e das casas de acolhida do município. Atualmente, segundo ela, apenas dez estão em funcionamento. Os demais levantamentos serão divulgados nas próximas três semanas.
Ao longo da fiscalização, que durou aproximadamente 20 dias, a vereadora percorreu todas as unidades da rede. Segundo ela, nenhum dos imóveis tem infra-estrutura adequada. Os principais problemas apresentados são: número insuficiente de profissionais (psicólogas, psiquiatras e educadores), falta de segurança e estrutura precária dos espaços. “Depois não sabem porque é preciso criar um pacto pela segurança. A ressocialização nesses espaços é nula”, critica Aline Mariano.
Em algumas casas, segundo ela, houve mistura no perfil dos acolhidos. “Encontramos meninas vítimas de abuso sexual convivendo com dependentes de drogas”, explica. A Casa Raio de Luz, no Prado, Zona Oeste do Recife, por exemplo, tem perfil para abrigar 20 adolescentes do sexo feminino (entre 14 e 18 anos) sem trajetória de rua, mas a realidade é bem diferente. “Vivem na unidade meninas de rua e usuárias de drogas, adolescentes vítimas de violência doméstica e há dois bebês recém-nascidos”, exemplifica a vereadora. Aline acrescentou que, de acordo com relatos dos educadores, as meninas consomem drogas na casa e saem para se prostituir.
Além dos problemas relativos à estrutura e assistência, em três casas o endereço informado no site da Prefeitura do Recife não corresponde à realidade do local. Segundo relatório da oposicionista, nas casas Roda Viva, Estância e o Espaço Recriar há outros tipos de estabelecimento funcionando no espaço onde deveria funcionar a unidade. Em discurso à tribuna, a vereadora mencionou que a desatualização do site é tão séria que no endereço do Espaço Recriar funciona uma academia de ginástica há três anos.
A vereadora também fez uma comparação entre o governo do Partido dos Trabalhadores (PT) e a gestão socialista. Segundo ela, na época petista havia mais unidades de acolhimento. “Não sabemos se o trabalho de ressocialização estava sendo bem feito, mas agora o número de unidades está bastante reduzido. Na verdade, acho que nenhuma administração deu atenção devida à rede de assistência, porque, na maior parte das vezes, os usuários não têm voz. É preciso uma política para essas pessoas invisíveis”, pontou a parlamentar, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara.
SEGURANÇA - A insegurança nas casas de acolhida também ganhou destaque no relatório. Vários profissionais, de acordo com a tucana, relataram ter medo de trabalhar no local, por causa da ameaça que recebem dos internos. “Os educadores são verdadeiros reféns, porque nenhuma das unidades tem vigilantes, só porteiros. Uma profissional contou que foi relatar o caso de uma menina que estava usando drogas ao gerente da casa e ouviu do gestor que deveria ficar quieto e não incomodar os meninos”, descreve a parlamentar.
REPERCUSSÃO - Em resposta às denúncias da vereadora, o líder do governo na Câmara, Gilberto Alves (PTN), afirmou que quando a gestão assumiu a prefeitura encontrou a rede em situação crítica. "Em dez meses, já concluímos a reforma na (casa de acolhida) Raio de Luz, fizemos a requalificação da Porto Seguro e, até o fim deste ano, vamos entregar a Acalanto. A requalificação das unidades será possível através de recursos do convênio com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)", explica.
